PENDER
Blumenau parou para a comemoração dos seus 175 anos de fundação. Direita, centro e esquerda irmanados para festejar as conquistas e o progresso alcançado. Tomara que não exageremos nas bebidas alcoólicas para evitarmos as brigas políticas, inclusive em família, para não acontecerem desgraças. Em Brasília, bem hoje, teve início o julgamento do Mito. Os lulistas querendo ver o Capitão na Papuda e os bolsonaristas crentes de que haverá o fim da perseguição com o milagre da anistia ou das sanções do Trump. O Centrão só no aguardo para ver pra que lado deve pender.
ASSEPSIA
Eu nunca esqueci da história do médico húngaro que, em 1846, foi trabalhar em Viena, na Áustria, e ficou intrigado com o fato de que muitas mulheres morriam no parto. Verificou então que os médicos chegavam, faziam autópsias e depois, sem lavar as mãos, iam para sua função obstétrica. Era o Império Austro-Hungaro, mas os magiares eram considerados cidadãos de segunda classe e não acreditaram nele. Ficou louco e gritava pelas ruas: “Lavem as mãos! Lavem as mãos!” Foi o desacreditado inventor da assepsia.
TODOS
Recordei a história do médico Ignaz Semmelweiss ao ler o Pulo do Rato, do Dr. Luís Renato Melo. Ele conseguiu uma bolsa para trabalhar na clínica vienense onde Dr. Achilles, fazia sucesso em cirurgias de revascularização do cérebro. Encontrou um edifício bem antigo, construído no início do século. A sala de operações era grande e tinha duas mesas cirúrgicas. Pensou que uma fosse para preparação do paciente. Que nada, ali rolavam sempre duas cirurgias concomitantes. Teve como cicerone e tutor o Dr. Afonso, um médico uruguaio que estava lá há quase dois ano. Conhecia como ninguém a vida de todos.
CANINOS
Sua primeira surpresa: o Dr. Achilles fora afastado por desavença com o chefe, o simpático e gordo Dr. Puskas. Afonso contou que Achilles estava recebendo muitos clientes privados, sem autorização. Puskas foi afável ao recebê-lo e liberou seus passos na clínica, desde que acompanhado e sob a responsabilidade de Afonso, que apesar de ser mórmon gostava de uma boa fofoca. Contou-lhe que o professor, de uns sessenta ano de idade, casara com uma mulher jovem, que adorava cães. O mestre contava com seis cães mais idosos e seis mais novos, ainda não treinados, que urinavam e defecavam no apartamento, tornando impossível receber visitas. Ele não seria convidado para jantar no apartamento do casal amante de caninos.
CONVITE
Ao contrário de todas as clínicas que havia frequentado, talvez por ser o único estagiário, o Dr. Renato Mello no dia seguinte entrou na rotina e passou a participar das operações como assistente durante as duas semanas que lá esteve. Conforme o informe do viperino mórmon, a estrutura era muito defasada em comparação com outras clínicas germânicas. Além do chefe, que era excelente cirurgião, logo abaixo do professor, o Dr. Lendl, que tinha muitas marcas na face, sequelas de ferimentos em lutas de esgrima. Preferia operar doenças da coluna, pois tinha a mão pesada e operava feio, mas os resultados não eram maus. Com os pacientes era rude e impiedoso. Comandava as reuniões clínicas falando alto e abordando assuntos que nada tinham a ver com a medicina. Num final de semana fez o convite para irem assistir a um evento de esgrima numa montanha, que se caracterizava por escorrer sangue e necessitar a presença de um médico. Horrorizado, o autor do Pulo do Gato não aceitou o convite.
EUROPEIA
Havia o Dr. Konetzky, assistente favorito do chefe, parceiro de trabalho do Dr. Puskas há muito tempo. Mais baixo que os outros, mas excelente operador, elegante, responsável pela preparação diária dos casos do chefe. Quando este não podia, terminava a cirurgia com a mesma perícia. Foi o que o levou a fazer carreira meteórica na Alemanha. Era um gozador quieto, sempre educado. Vinte anos depois foi visitá-lo em Mainz e teve a permissão para fazer vídeos de suas operações magistrais. Pena que, ao final da carreira, foi proibido de operar por razões legais. Desgostoso suicidou-se. Uma perda irreparável para a neurocirurgia europeia.
INCOMODADO
Outro personagem do Neuro Teatro Vienense era Zahnbauer. Austríaco gorducho, alto, usava óculos e tinha voz grave. Um mau cirurgião, mas interessante biografia. Órfão, foi levado por parentes para Portugal na época da guerra. Aprendeu o português e esqueceu o alemão. Depois do conflito mundial, retornou e teve que reaprender a língua mãe. Foi infeliz no casamento e penalizado Puskas o prestigiou por algum tempo, enviando-lhe pacientes até parar sem anunciar o motivo. Zahnbauer não estava mais operando e nem parecia incomodado.
RESULTADOS
Com título de professor, Finder Plassmann era casado com uma excelente neurologista, que chefiava outro hospital. Era inseguro nas cirurgias e gritava com as enfermeiras, mas possuía uma clientela particular maior do que a do chefe, todos pacientes encaminhados do serviço da esposa. Certamente devia ter bons resultados.
EUROPA
Era impossível deixar de rir ao lado do falastrão Hracek. Quando se pretendia falar sério, ele desarmava a todos com a maior besteira. Há seis anos na clínica, operava razoavelmente bem e ainda não tinha o título de especialista. Não se preocupava com isso, pois era dono de empresa de helicópteros que fazia transporte aéreo de Viena para toda a Europa.
MUNDO
O personagem central do espetáculo teatral era Afonso. Irmão latino, ruivo, magro, muito simpático, bem-casado e pai de cinco filhos. Esclarecia qualquer dúvida e era figura cativante. Operava com perícia, modesto, não infringia a hierarquia. Além das qualificações médicas, era pintor neocubista, representando nas telas estruturas cerebrais por meio de uma arte de alto padrão. Seus quadros o levaram à fama, realizando exposições em Viena e outras partes do mundo.
NORMAL
Completando o teatro de variedade, quando chegou notou que havia uma atividade social entre os médicos e parte feminina da enfermagem. No primeiro dia no centro cirúrgico notou que duas auxiliares olhavam para ele e sorriam. O tutor esclareceu que era por causa da cinta rosa em que levava seu dinheiro. “Estão rindo da cor rosa da sua cueca.” Para terminar o espetáculo, o Afonso cochichou que todos os meses acontecia uma festa na sala de reuniões. Além da música existiam biombos e colchões no chão. Médicos e enfermeiras dançavam, bebiam e transavam. No dia seguinte a vida seguia o seu curso normal.
RESPEITO
Neste feriado vou aproveitar para me dedicar à leitura do Pulo do Rato, Enquanto isso em Dom Casmurro, Livro sobre livros e “Linkshänder” (Canhotos). Depois, paulatinamente, comentarei a respeito.
CAMPEÃO
Nas Ilhas Fiji, na Oceania, o brasileiro Yago Dora sagrou-se campeão mundial de surf. É a oitava vez em onze anos que o Brasil arrebata o título e traz o troféu e o valioso prêmio para o campeão.
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