ÍNVIOS

 



Meu falecido pai nasceu em 28 de Fevereiro de 1914, em Palmas, no Paraná. Nasceu no período da Guerra do Contestado, que aconteceu de 1912 a 1916. Por isso foi batizado como João Maria, em homenagem ao monge que se notabilizou na liderança do movimento nacionalista. Agora, ao voltar à leitura do “Livro sobre livros” do meu inesquecível amigo Eneas Athanázio, encontrei o capítulo “A Saga do Trem de Ferro”. Começa dizendo que os hstoriadores relatam que o monge João Maria, em suas deambulações pelo Planalto, profetizava o surgimento de um monstro de ferro que invadiria o sertão, ardendo em fogo e expelindo fumaça pela venta. Com ele viria uma gente estranha, de muito longe, carregando armas e muita ganância por dinheiro, acabando com a doce paz daqueles ínvios.


ÉPOCA


A profecia não tardou muito a se concretizar com a chegada dos trilhos pelos quais correria o monstro: o trem de ferro. Essa predição, como tudo o que o monge dizia, se fixou no inconsciente coletivo, gerando a resistência popular ao trem naquela região. Pessoas mais aferradas aos costumes vigentes relutaram em aceitar o novo meio de transporte, revolucionário, eficiente e rápido para a época.


FICÇÃO


Em um de seus contos, Enear Athanázio, inspirado em duas fazendeiras, recordou a desconfiança da personagem em relação ao trem e seu esforço no sentido de atrapalhar a implantação das linhas em suas propriedade. Lendo um ensaio histórico da arquiteta e restauradora Etelvina Rebouças Fernandes, publicado pela Secretaria da Cultura da Bahia, sobre a implantação das estradas de ferro no Brasil constatou que a realidade não estava muito longe da ficção.


MAUÁ


A ensaísta mostra que de fato os latifundiários de vários pontos do país, valendo-se do seu poderio eleitoral, retardaram em diversas ocasiões o assentamento dos trilhos nas terras que lhes pertenciam. Já o regente Diogo Feijó, em 1835, percebeu a necessidade de unir o país pelas estradas de ferro, inclusive como meio para manter a sua integridade territorial. Mas ele foi demitido graças à “pressão de políticos conservadores, em sua maioria proprietários de terra, e que viriam a retardar as ideias de avanços dos meios de transporte”. Só muito mais tarde seria construída a primeira ferrovia nacional, a Estrada de Ferro Mauá.


PROGRESSO


Outra dificuldade incrível contribuiu para o problema: o burro. Isso mesmo. O burro, jegue ou jumento, “nosso irmão”, como dizia o padre Antônio Vieira. Tudo era transportado no lombo de animais e os donos de grandes tropas de jumentos destinadas ao transporte voltaram-se contra o trem, prejudicial aos seus negócios. Os que trabalhavam na área engrossaram o caldo, tal qual os fazendeiros por onde passavam, porque forneciam o alimento, milho e alfafa, obtendo enormes lucros. Assim, sem saber e sem querer, os burros foram usados para atravancar o progresso.


REALIZADO


O latifundiário, responsável pelo coronelismo, voto de cabresto e o conservadorismo extremado, de fato teve seu dedo no retardamento do transporte ferroviário. Mas a necessidade se tornou imperiosa e cabeças mais arejadas acabaram por prevalecer. O pais mudou do lombo do burro para o trem. Com a Abolição da Escravatura, multidões de homens livresc mas sem trabalho, infestavam as cidades. Urgia aproveitar a mão de obra barata desses bandos de párias que perambulavam sem ter o que fazer. Surgiram vários planos para a construção de uma rede ferroviária nacional. A autora relaciona oito, além da Sugestão do Engenheiro Paulo de Frontin, a mais próxima do que foi realizado.


PETROLEIRO


Aos trancos e barrancos a malha ferroviária foi se estendendo. Algumas dessas vias féreas exigiram incontáveis mortes, doenças e miséria. Como aconteceu com a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, a “Ferrovia do Diabo” em Rondônia, a travessia do Pantanal, no Mato Grosso, e o trecho entre Porto União e Marcelino Ramos, no trecho catarinense chamada “Ferrovia do Contestado”, apontada como uma das causas da guerra de 1912 a 1916. Apesar do imenso esforço de gerações, guerras, revoluções, lutas, sofrimento e morte de milhares de pessoas, as ferrovias nacionais não receberam a atenção merecida. Muitos trechos foram desativados e se encontram entregues à intempérie e ao vandalismo. Não foram vítimas do latifúndio e do burro, mas de um inimigo muitíssimo mais poderoso: o petroleiro.

 

INTERNAUTAS


Neste domingo, 10 horas da manhã, em Manila, nas Filipinas, tem estreia do Brasil no Mundial de Vôlei Masculino. De cara vamos enfrentar a China. No nosso grupo temos ainda República Tcheca e Sérvia. Os dois melhores da chave passam para as oitavas de final. O SporTv 2 vai transmitir em canal fechado, ao vivo, e no “streaming” pela VBTV, no You Tube, para os internautas.







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