LOCAL

 


Pego o meu exemplar de O Dom de Casmurro, que tenho autografado pelo autor, José Endoença Martins, e vou para o prólogo. Não sei se ele narra um fato realmente acontecido no Jaracumbach ou se deu asas a sua fértil imaginação. Conta que estava calmamente sentado na frente da sua casa quando um cidadão negro chegou apavorado pedindo ajuda. Era um negro alto e forte, vestindo capuz, camiseta sob o casaco, calça de academia e tênis colorido. Quis saber o que se passava e ouviu que havia dado um murro num Coronel do Exército e estava tentando escapar porque sabia que se o pegassem estaria frito. Pela insistência do narrador, resolveu contar o que aconteceu. Estava com a turma no restaurante da Universidade de Jaracumbach bebendo e jogando conversa fora. Um colega começou a dançar e cantar o Hino Nacional em ritmo de samba e todos aderiram. De repente um senhor, que não conhecia, chegou aos berros mandou que parassem com o desrespeito à pátria amada, senão ia prender e arrebentar. Foi quando, pavio curto, deu um soco na cara do homem, que caiu no chão e todos trataram de correr. O pessoal sabia que era um Coronel e comandante da guarnição local.


LOCALIDADE


O escritor, mesmo sabendo o risco que corria, decidiu ajudar. Recolheu o encrencado e alimentou-o. Na mesa o gigante de ébano contou que viera de longe. Que largara mulher e filho, que queria matar por ciúme e desconfiar que não era o pai da criança. Foi no trem para Engenho Novo que adormeceu e acabou ouvindo o poeta, cujos versos tinha lido, aconselhando para que não fizesse a besteira. Acordou e desceu numa estação deserta. Ai caminhou, caminhou e acabou parando ali naquela localidade.


CABEÇA


Depois contou que sempre foi ajudado por desconhecidos. Dois estranhos o haviam salvo de situações embaraçosas. Um em casa e outro na universidade. Agora um terceiro o ajudava. Fazia sentido a frase de autocomiseração: “sempre dependi da bondade de estranhos”. Como Blanche Dubois, ouviu a pergunta. Quem é Blanche Dubois? foi a sua resposta. Para não entrar na arena literária, disse que era apenas uma metáfora. Talvez um dia contasse a história da mulher que sempre esteve à mercê da presença protetora de outros na sua vida de miséria.

Quando citou a frase de Blanche Dubois: “Não quero o realismo, quero a mágica”, o hóspede inesperado gostou. Queria a magia no lugar da realidade, que só lhe havia dado dor de cabeça.


OBSERVAÇÃO


Tendo decidido hospedar o fugitivo, pelo tempo que quisesse, providenciou um quarto para ele dormir, após banho relaxante. Quando também foi para a cama bateram fortemente na porta. Gritou que já ia atender e foi ver o que havia. Era um Oficial e quatro soldados. Queriam saber do fugitivo. Ele disse que não sabia. Entraram e vasculharam sua casa e não encontraram o homem que procuravam. O milico anunciou que ele ficaria 24 horas sob observação.


VINGATIVO


Professor universitário, no dia seguinte foi dar aulas e até os alunos observaram que estava diferente, preocupado. Quando voltou para casa, lá estava ele de novo, na cozinha. O hospedeiro disse que ele não poderia permanecer ali, porque o Comandante iria voltar. “Tenho três amigas insuspeitas que prometeram me ajudar a te proteger”. Eram três mulheres corajosas. Pegaram o carro e foram até a casa da primeira. Ele ficaria com ela até o dia seguinte, quando voltaria a ser apanhado, à noite, e levado para a casa da segunda, depois da terceira e o rodízio recomeçaria. Agora eram cinco a enganar o Comandante vingativo.


INEXPERIENTE


Saíram do carro, abriram o portão e percorreram a pequena distância até a casa. Uma luz se acendeu. a porta se abriu e surgiu a figura de uma jovem senhora. O olhar dela ia dele a Casmurro e voltava. Parecia estar comparando a sua negrura. Após conversa explicando o plano disse que “o nosso irmão fica sob tua proteção. Cuida bem dele”. Saiu, ouviu o barulho da chave girando na fechadura, voltou para o carro, esperou a luz apagar e aí acendeu os faróis e saiu dali.

Rodou sem destino. Passava da meia-noite e àquela hora o Jaracumbach já descansava das lamúrias do dia anterior. Durante algum tempo vagou pelas ruas. Não queria voltar para casa. Nem deseja pensar muito naquela decisão arriscada e que ia envolver tanta gente, que além de tudo era inexperiente.


GRANDE


Terryville, pequena cidade de cinco mil habitantes, no Estado de Connecticut, está vivendo um verdadeiro clima de “guerra civil”. Tudo porque foi aberta uma Casa de “Swing” a poucos metros de distância de igreja evangélica. O caso da cidadezinha do interior dos Estados Unidos foi para na Justiça. Acredito que as “Matildes” ficavam na espreita observando se os casais iam para o culto ou para a troca de parceiros e, na escuridão, podiam se enganar na fofoca. Também quem manda quererem imitar costumes de cidade grande.


GUANTANEMRA


Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, mulher trans brasileira, quis tentar a sorte nos Estados Unidos e foi presa quando cruzava a fronteira com o México, perto de El Paso, no Texas. Em depoimento para a justiça norte-americana, ela declarou que chegou no dia 15 de Fevereiro e queria pedir asilo. Mas, foi detida e mandada para a ala masculina da cadeia de Otero, onde ficou com 50 homens, onde sofreu todo tipo de assédio, nos corredores e na cela. Depois foi algemada em levada de avião militar para a Prisão de Guantánamo, em Cuba. Em Março foi transferida para Miami e continua presa. Agora em Pine Prairie, na Louisiania, em cela isolada. Perguntada se assinaria uma ordem de deportação disse que não porque teme por sua vida no Brasil. Será que ouviu cantarem Guantanamera?


DIFERENÇA


Um pênalti no último minuto dos descontos deu a vitória ao Cruzeiro contra o Flamengo e com Gol de Gabigol para a alegria da torcida cruzeirense. O Palmeiras dormiu na liderança do Brasileirão. Poderá ser ultrapassado pelo Bragantino, se este ganhar do Mirassol por dois gols de diferença.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONTINUA

RETALIAÇÃO

ARRANHA--CÉU