PERDEM



Foi feita uma pesquisa para apurar se o povo brasileiro está fazendo investimentos para garantir o seu futuro. Descobriu-se que a caderneta de poupança continua sendo a preferência da maioria. O estranho foi ter revelado que dos 23 milhões que fizeram apostas no ano passado, 4 milhões consideram que elas sejam um tipo de investimento. Devem saber que, apostando, a maioria só perde. Contudo, não se pode criticá-los porque muitos que compram ações também perdem.


MESES


Os ministros Carlos Fávaro, Fernando Haddad e Marina Silva fizeram em São Paulo o lançamento do programa Caminho Verde Brasil. O projeto propõe a recuperação de 40 milhões de hectares de áreas degradadas, em 10 anos, para serem utilizados exclusivamente na agricultura sustentável. Foi lançado também o segundo leilão do Eco Invest, com o objetivo de alavancar recursos para recuperar 1 milhão de hectares de terras degradadas, nos biomas da Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. O Bioma Amazônico, por suas peculiaridades, será tratado de forma customizada e em leilão exclusivo, previsto para os próximos meses.


TEMPOS


Os leitores assíduos do meu Blog, se tem boa memória, lembram que comentei sobre o prefácio do livro O Dom de Casmurro, de autoria do blumenauense José Endoença Martins, e prometi que também abordaria o posfácio escrito pela Dra. Naira de Almeida Nascimento. Em oito páginas, ela fez uma análise minuciosa da obra inspirada em Dom Casmurro, de Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro, de todos os tempos.


MARTINS


Ela começa dizendo que o título já evidencia as amarras a que está sujeita a obra inspirada no romance machadiano. Machado de Assis projeta sua influência tanto em O Dom de Casmurro quanto em Enquanto isso em Dom Casmurro. Cita que isso se verifica tanto na temática quanto na intertextualidade mantida, em particular com Shakespeare. No diálogo vê incidir uma cobrança sobre o autor oitocentista por não ter privilegiado a questão racial em sua ficção. Quase conclui que é sobre esse texto que vai se inscrevendo a ficção de Endoença Martins.


CASMURRO


Crê que os anos de seminário tenham aproximado as experiências de Endoença Martins e Bento Santiago e que a forte identificação daquela leitura, em anos de formação, tenha contribuído para a eleição do livro como marco na vida do jovem leitor. Mas aí já estaria no domínio da biografia. Seja como for, surpreende a posição paradigmática dos entes romanescos, do trio amoroso representado por Bento, Capitu e Escobar na ficção de Endoença Martins. Uma explicação de base teórica vem expressa no próprio texto num exercício metacrítico com o nome de “significação”, sobre o qual se pronuncia Capitu, personagem de O Dom de Casmurro.


OITOCENTISTA


Ainda que a terminologia possa envolver um largo debate, prefere se deter no sentido explorado no romance e pelo qual se percebe a chave da leitura. Pode-se deduzir que Endoença Martins se vale do mesmo princípio: o da signficação. Partindo do representante mais icônico da literatura brasileira, ao menos em seu período de formação, o autor blumenauense aponta para um sentido diverso através da repetição que realiza do universo machadiano. Pela imitação aparente de uma obra entronizada, atinge a dissonância. Na resultante desse processo significativo, o debate racial ganha uma expressividade ausente no texto oitocentista.


JARACUMBACH


Aplacada a revolta de Capitu, personagem mais célebre da literatura brasileira no romance de 1993, é a vez do seu marido assumir a centralidade do enredo em O Dom de Casmurro. Não se pode dizer que ele monopolize o discurso, mas é à sua volta e por meio dele que se dá o encontro de várias outras vozes, separadas historicamente, mas aparentemente sedentas de pacificação, num confluência sonhada e vagarosamente construída. De forma análoga à aparição de Capitu no romance anterior, dessa vez é Casmurro quem salta das páginas, ou melhor, do bonde em que inutilmente tentava seguir a leitura dos poemas do jovem neófito desconhecido, episódio que lhe granjeou o apelido emplacado no título do romance. Saído da realidade monótona que marca o capítulo inicial de Dom Casmurro, o protagonista ingressa no ritmo frenético do outro romance, em meio a uma perseguição policial causada por ele a um militar brasileiro em plenos anos de chumbo. O incidente obriga Casmurro a refugiar-se na casa de Bento, um professor da universidade onde havia ocorrido o incidente. Bento se reconhece na pele de Casmurro, que, pelo efeito semelhante ao de Capitu, também se transmudou ao cair em Jaracumbach.


SIGNIFICAÇÃO


Capitu esclarece algumas diferenças: “Houve diferenças com a minha aproximação da cor negra e a dele. Minha identificação com os negros do Jaracumbach havia sido um opção própria. A de Casmurro havia sido destino. Otelo a impôs a Casmurro e se impôs a ele, também. A cor negra foi o elemento que mais nos aproximou. Aquilo que Machado não conseguiu por estritas exigências da narrativa realista do ano da graça de 1899, nós alcançamos, por vias mais flexíveis da estética pós-modernista de 1993 e 2016. Aqui é convocado outro texto-chave que forma a rede de significação da prosa martiniana: Otelo. Aliás, Shakespeare compartilha com Machado de Assis a dívida explicita dessa romanesca. Seguindo a lógica plantada pelo livro, a relação entre Casmurro e Otelo também se explicaria pela ideia da significação.

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