DIÁRIO

 


Recebo de Carlos Braga Mueller a triste notícia do falecimento do Dr. Enéas Athanázio, que foi o primeiro presidente do Conselho Municipal de Cultura de Blumenau e é o autor de 62 livros. Estava com 90 anos de idade e residia em Balneário Camboriú. Ainda tenho para ler e comentar mais de dois terços do seu “Livro sobre livros”, volume 2, no qual aborda escritores catarinenses. Realmente uma grande e lamentável perda para a nossa cultura. Vou sentir muita falta dos seus livros, que me mandava, e dos comentários que fazia a respeito do meu Blog, do qual era leitor diário.


ÁREAS


O governo estadual catarinense está criando um programa inédito: o registro dos moradores de rua. Com reconhecimento facial e cadastro de todos os dados importantes, como idade, estado civil, procedência, estado de saúde, registro de ocorrências policiais, uso de drogas. Aí em qualquer município de Santa Catarina eles poderão ser identificados e atendidos. Eu aplaudiria ainda mais se fosse criado o Registro de Domicílio que abrangeria todos os habitantes do território catarinense e possibilitaria um planejamento perfeito para todas as áreas.


DESAPARECEU


Cidadão paulista cursou a faculdade de Direito, passou no concurso do Tribunal de Justiça e aposentou-se como juiz após 45 anos de atividade. Tinha seus documentos oficiais e assinava os papeis públicos com o nome Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, mais longo do que o do próprio Rei da Inglaterra. Agora foi renovar a sua carteira de identidade e acabou sendo desmascarado pelo sistema digital. Nada tem de britânico e seu verdadeiro nome é José Eduardo Franco dos Reis. Será que foi puro exibicionismo? O que sei é que, na sexta-feira, pegou o passaporte do Edward Albert Lancelote Dodd Canterbury Caterham Wickfield e desapareceu.


INDUSTRIALIZADOS


Vamos ao sexto capítulo da “Conversa com Ingo Hering Hoje”. Quando o empresário, citando a Alemanha, mencionou que as ações das grandes empresas estão pulverizadas em poder do público e das instituições seguradoras-sóciais, Marco Aurelio Arantes, hipoteticamente, contestou:


Relativamente pulverizadas, não? O controle permanece com o grande capital, consumista.


- Há uma certa controvérsa a respeito do “social” e do “consumismo”. Todo mundo pretende ser social, existindo um nítido preconceito contra o consumismo (não tanto o próprio quanto o alheio). Na realidade, não pode haver uma coisa sem a outra. Até a I Guerra Mundial, existia, notadamente na Europa, uma separação bastante sensível entre burgueses e proletários. A teoria capitalista de então, que ainda apresentava um ranço feudalista, era de que os salários representavam despesa e, para se poder concorrer melhor, deviam ser mantidos baixos. Essa teoria assemelhava-se bastante àquela que Marx previu em sua filosofia. O quadro mudou ao se patentear que, a bem da expansão da produção e do pleno emprego, devia haver, como corolário, um consumo maior pelos assalariados. Quem melhor percebeu esse nexo foi Henry Ford, ao entender que a redução do custo de produção através da racionalização deveria caber em parte aos operários, e em parte ao barateamento do produto – de forma que aqueles, com o tempo se tornassem os melhores fregueses dos artigos que ajudavam a fabricar. Com isso, entramos na era do “capitalismo distributivo” e na massificação do consumo, que hoje é característica das economias dos países industrializados (1981).


CRESCENTE


No seu entender, então, os interesses são convergentes, não conflitantes?


- Sendo os assalariados os principais consumidores, torna-se cada vez mais visível que os interesses do capital/produção e dos assalariados/consumidores terão que convergir cada vez mais. A previsão de Marx, do “empobrecimento inexorável dos trabalhadores” foi desmentida pelos fatos. A economia baseada na livre-iniciativa e no jogo do mercado depende, pois, tanto da melhoria do padrão de vida das massas (consumidores) quanto do aumento e barateamento – pelo menos relativo – da produção. Se queremos promover o “social”, temos, pois, de aceitar o consumismo crescente (1981).


QUALITATIVA


O pensamento neoliberal advoga o controle de natalidade, ou “planejamento familiar”, como querem alguns, ou ainda “paternidade responsável” - qualquer que seja o eufemismo usado – como o senhor vê essa questão?


- Quem estuda objetivamente os problemas econômico-sociais do Terceiro Mundo tem de chegar, forçosamente, à conclusão de que seu atraso social frente aos países mais desenvolvidos se deve, em maior parte, ao seu demasiado crescimento populacional. E como entre as faixas sociais dos países em desenvolvimento justamente as mais pobres apresentam as taxas de nascimento mais altas, a diferença de nível de vida se acentua. A verdade é que não existe economia, seja de qual tipo for, que possa absorver uma oferta de mão-de-obra correspondente a um crescimento demográfico ao redor de, digamos, 3% ao ano. Veja-se o exemplo do México, que, baseado numa tradição indígena que nós não possuímos, instituiu os “ejidos” - cooperativas de uso das terras -, mas não conseguiu frear o êxodo rural em massa, devido à explosão demográfica. Os efeitos da impossibilidade de equilibrar a excessiva oferta de mão-de-obra são os conhecidos anéis de miséria ao redor das grandes cidades. Se um país com, digamos, 100 milhões de habitantes, reduz em apenas 1% a sua taxa de natalidade, tem uma redução anual de um milhão de pessoas, que, atualmente, sobrecarregam a faixa de mais difícil absorção pelo setor secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços). As faixas etárias economicamente ainda improdutivas se reduziriam percentualmente, em favor das produtivas (adultos), do que resultaria também um aumento dos salários reais. Haveria, por fim, uma diminuição da sobrecarga quantitativa em todos os graus de ensino, o que possibilitaria sua melhoria qualitativa (1978).


IMÓVEIS


Nossa taxas de natalidade vem caindo consistentemente, mas a inflação volta a preocupar. Como impedi-la?


- O combate à inflação é, mundialmente, uma das mais difíceis tarefas dos governos. Sendo ela, fundamentalmente, resultado do desequilíbrio entre oferta e procura, a solução parece fácil: “É só aumentar a oferta acima da procura… e pronto” ; e a sua inversão: “Aumentar a procura mediante salários altos… e a oferta já se adaptará” - são, bem resumidos, argumentos de liberais ortodoxos e de esquerdistas, respectivamente. Isso só funciona na teoria - e em Estados totalitários. Mas, lá, com nivelação para baixo. Nos países de economia livre, já amadurecida e consolidada, o equilíbrio oferta/procura é facilitado pela poupança abundante, que se dirige, quase automaticamente, aos setores nos quais a oferta não cobre a procura. Isso causa uma temporária elevação dos preços e dos lucros, até o restabelecimento de um novo equilíbrio. A inflação se tornar galopante quando o capital e as poupanças populares, já em si escassos, começam a fugir dos setores produtivos para os especulativos, mas não sujeitos à desvalorização, principalmente imóveis (1979).


COMBUSTÍVEL


A OPEP anunciou que os países produtores de petróleo vão aumentar a sua produção em 411 mil barris diários. A notícia provocou a imediata queda do valor das ações das empresas petrolíferas, entre as quais a nossa Petrobras. O Lula deve ter tomado uma cachacinha, abriu um sorriso e concluiu que é mesmo um cara de sorte. O preço da gasolina poderá baixar e fazer a alegria do povo. Os acionistas é que não ficaram nada satisfeitos com a perspectiva da redução do lucro na venda do combustível.

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