ABRIL
A Petrobras resolveu dar uma mãozinha pro Lula e baixou o preço do litro do óleo diesel. O mercado não gostou e caíram as ações da nossa maior empresa. Mas os caminhoneiros estão comemorando os 17 centavos de economia por litro do combustível. Quem é a voz do mercado? Quem vive de rendimentos. Quem é a voz do povo? Os caminhoneiros que consomem o óleo diesel e que abastecendo 1.000 litros durante um mês terão no bolso mais 170 reais. Para os primeiros, embora estejam reclamando, o valor nada representa e para os segundos significa poder levar um ovo de chocolate para casa e alegrar a família na Páscoa, no dia 20 de Abril.
DIMINUIU
Os preços dos alimentos estão lá em cima e a popularidade do Lula está lá embaixo. Mesmo assim os supermercados estão todos cheios de gente comprando e a cada semana vejo o anúncio da inauguração de uma nova loja de grande rede supermercadista. O fluxo no final do mês é impressionante. Parece que as pessoas acreditam que fazendo o rancho vão economizar porque os preços sofrerão aumento no novo mês. Estão com medo do Tarifaço do Trump. A verdade é que a Tangerina, que Gaspar já produziu às pamparras e agora é importada, o quilo está custando 23,98 reais. Mas o tomate, nosso de cada dia, está sendo oferecido, no Dia da Feira, por 10,99 o quilo. Será que teremos mais aumentos? O pinhão terá com toda certeza, porque a safra diminuiu.
DESENVOLVIMENTO
Para esquecer as agruras do presente, vamos voltar ao passado. Quarto capítulo da “Conversa com Ingo Hering Hoje”. Para fazer a pergunta, Marco Antonio Arantes formula o introito:
Jacques Lambert fala de “Dois brasil em convivência: um arcaico e retardado e o outro em franco desenvolvimento”. Como eses dois brasis se inter-relacionam e formam uma Nação?
- Se não fossem intimamente entrelaçados, mas geograficamente separados, sendo um (capitalista-industrial) em “franco desenvolvimento” e o outro (semifeudal) “arcáico e retardado”, a diferenciação da renda per capita cada vez maior entre os dois sistemas indicaria claramente o avanço social do primeiro. Devido, porém, ao completo entrelaçamento dos dois sistemas, não se pode distinguir o efeito de um para o outro. Assim, a livre iniciativa do sistema desenvolvimentista leva a pecha de ser a causa das diferenças crescentes entre “pobres” e “ricos”. Estatisticamente a diferença existe, mas é, na realidade, o resultado da melhoria do padrão de vida dos beneficiados pelo desenvolvimento.
CONTRAPRODUCENTE
A solução?
- A solução definitiva – respeitado o caráter relativo de todas as soluções – só poderemos conseguir pelo penoso caminho do desenvolvimento e nunca por medidas imediatistas, que, em todo mundo, e em todas as épocas, se têm mostrado contraproducentes (1977).
HISTÓRIA
Mas também é verdade que a humanidade se move aos saltos; veja a União Soviética, que, em uma geração, transformou-se de um país feudal em uma potência industrializada.
- “Quem, com 20 anos, não é socialista, não tem coração; quem, com 40 anos, ainda é socialista, não tem cabeça”. Isto, claro, é força de expressão, mas caracteriza a metamorfose da maioria dos homens que se interessam pelo bem-estar da humanidade. Quando começam a pensar conscientemente, vêem ao redor de si muita miséria e reais ou supostas injustiças, o que os convence de que só uma mudança radical da sociedade pode salvar o mundo. Encontram, então, a resposta para todos os problemas na “Bíblia” de Marx, que sem dúvida, é uma obra filosófica cuja dialética impressiona. Dissecando-se mais friamente a sua obra, ressalta uma tentativa discutível de Marx – a quem não se deve negar os impulsos sociais-éticos – que foi a de querer alicerçar, cientificamente, uma atitude ético-revolucionária. Assim, a par de muitas observações acertadas e de críticas justificadas ao capitalismo desenfreado daqueles tempos, na Inglaterra, chegou ele a conclusões “científicas” que foram desmentidas redondamente pelo curso real da história (1977).
HISTÓRIA II
A formulação marxista de que, através da mais-valia o capital é apenas trabalho acumulado, não lhe parece fazer sentido, então?
- A tese social básica de Marx era a do empobrecimento constante das massas operárias, porque os capitalistas, pagando só o mínimo para garantir-lhes um precário sustento de vida, aplicariam seus lucros – a “mais-valia” - em máquinas que, por seu turno, liberando mão-de-obra, criariam um “exército de reserva” crescente, o que, como verdadeiro círculo vicioso, permitiria aos capitalistas pagar cada vez menos salários. O desenvolvimento real dos salários, porém, foi crescente. Isto o próprio Marx reconheceu, na sua época mais madura, modificando então a sua tese para a de “uma diferenciação relativa maior entre pobres e ricos. O maior desacerto de Marx, porém, a nosso ver, foi o de ter ampliado a sua apriorística tese do empobrecimento operário para um verdadeiro macrocosmo filosófico (O Capital), no qual descreveu “o caminho inexorável do capitalismo para o socialismo, baseado, essencialmente, no seguinte esquema: devido ao empobrecimento das massas, o capitalismo industrial entraria em crises de mercado cada vez mais agudas, de modo que, finalmente, as poucas empresas sobreviventes poderiam ser facilmente expropriadas pelo Estado, ou melhor, pela comunidade (a expropriação dos expropriadores)”. Então, por que fomentar uma atitude revolucionária, sempre acompanhada de toda sorte de crueldades, injustiças e derramamento de sangue, se o caminho do capitalismo para o socialismo é uma consequência cientificamente garantida pelo curso da História? (1977)
ESTADO
Pode-se apressar a História, não? E não necessariamente de modo violento.
- Mas como se coaduna filosoficamente essa hipótese, que é essencialmente evolucionista (inexorável), com a teoria da Luta de Classes, que é revolucionária – também no sentido filosófico – e que se alicerça no seu Materialismo Histórico, derivado da dialética de Hegel da “Tese-Antítese-Síntese”, na qual Marx deu à antítese caráter nitidamente revolucionário? Até o advento de Marx, havia no pensamento ocidental polaridades fecundas – Idealismo-Realismo; Individualismo-Coletivismo; Poder Espiritual-Poder Secular; etc. - que eram conflitantes e, ao mesmo tempo, se completavam dentro de uma visão geral. O marxismo consequente, porém, não admite graduações, nem reconciliações; não há espaço para o livre arbítrio nem para a escolha entre o dever e a vontade. Só podemos escolher entre “certo” e “errado”. Parece-nos, pois, que a única atitude digna de um homem moderno deva ser a de um idealismo pragmático, isto é, aspirar ao bem, mas dentro de um caminho realista (1977). Como o dinamismo econômico é sinônimo de desenvolvimento, é óbvio que a industrialização é o único meio de propiciar o desenvolvimento de uma nação, e não como um fim em si, mas para criar os necessários empregos para as massas emergentes. Admitimos que muita coisa seja criticável num regime baseado na livre-iniciativa, porque o seu motor natural é o interesse de cada um – e, justamente para atenuar isso, o neocapitalismo aceita uma intervenção reguladora do Estado (1978).
TRUMPISTA
Quando as Excelências querem qualquer projeto é rapidamente transformado em lei, lá em Brasília. O Trump, imitando Moisés, pegou uma tábua e mostrou as suas novas taxas para os países do mundo. Em menos de 3 horas a Câmara Federal aprovou a Lei da Reciprocidade, que já havia passado direto pelo Senado. O Brasil vai tentar as negociações com os EUA e não para atender à ameaça do secretário do tesouro norte-americano de medidas mais graves para quem partir para as retaliações. A negociação é o prato predileto no menu do Itamaraty e o Lula gosta de pregar as negociações. Temos, contudo, em mãos o arcabouço legal para responder à altura ao Tarifaço Trumpista.
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