TÊXTIL

 


Vamos o segundo capítulo da “Conversa com Ingo Hering Hoje”. O autor do livro, Marco Antônio Arantes, começa com uma constatação:


O admirável nisso é que estamos falando de um vilarejo recém-nascido, com cerca de quinze mil habitantes, mas que absorvia a circulação de três jornais.


- Sim. E o decênio 1880-90 foi especialmente fértil, na criação de novas indústrias. Mas os dois decênios subsequentes quase não trouxeram iniciativas. Com a disponibilidade da força elétrica, por volta de 1910, a situação melhorou definitivamente e não é demais afirmar que entramos numa terceira fase industrial, a da consolidação e diversificação. Foi F. G. Busch o pioneiro da eletrificação, com uma pequena hidroelétrica no Gaspar Alto, em 1909-10. Como essa usina já nasceu pequena, formou-se logo outro grupo, chefiado por P. Chr. Feddersen, a quem coube terminar, no início de 1915, a Usina do Salto – para a época uma construção arrojada. A usina veio a ser adquirida por um grupo de São Paulo, que formou a Empresa Luz e Força de Santa Catarina. Na continuidade, sob a liderança de Curt Hering e Otto Renaux, em 1923 foi adquirido o controle dessa sociedade pelas principais firmas industriais da nossa região. Com a disponibilidade de força elétrica barata e, praticamente, em quantidade ilimitada, a indústria tomou um novo impulso, especialmente a têxtil.


1948


Mas o diferencial continuou sendo o elemento humano?


- Sim, até porque após a I Guerra Mundial, entre as levas de imigrantes que chegavam da velha Europa, encontravam-se muitos técnicos, versados em ofícios e diversos ramos industriais. A eles se deve, sem dúvida, uma grande parcela de serviços no novo surto de progresso que tomou a indústria no decênio de 1920-30, diretamente, pela fundação de indústrias por conta própria, ou indiretamente, pelos conhecimentos técnicos que emprestavam às fábricas já existentes. Na mesma época formou-se ainda, mas com elementos técnicos próprios, a Fábriga de Gaitas Alfredo Hering, a única na América do Sul. Em suma, a produtividade per capita aumentou muito pouco entre 1883 e 1915, mas muito mais do que quadruplicou, em quase igual lapso de tempo, entre 1915 e 1948.


BOTEQUIM


É um bom quadro geral, mas a Hering, especificamente, como é a história da Hering, uma empresa familiar que chegou a ser a segunda maior malharia do Mundo?


- Meu avô, Hermann Hering, imigou para o Brasil em 1878 não por arrojo, ou em busca de aventuras, mas para a criação de uma nova existência. Precisou de coragem: pois o Brasil ainda era, nos países da Europa Central, pouco mais do que terra incógnita. A bancarrota vienense de 1875 prejudicou muito o comércio. Também a firma Gebrueder Hering, Irmãos Hering, em Hartha, na Saxônia, lutou muito para não ir à ruína. Firmas menores faliram e, por não poderem cumprir seus compromissos, arrastavam outras, maiores, à perda total. Na época, havia em Hartha um alemão por nome Weise, vindo de Blumenau, e que tencionava voltar para o Brasil. Por êle, meu avô soube da colônia fundada pelo Dr. Blumenau e, após muita reflexão, resolveu vir conhecer esse povoado. Deixou a família aos cuidados do irmão, Bruno, e veio sozinho para o Brasil. Uma vez em Blumenau, procurou poupar as economias trazidas, pelo ganho de pequenas quantias. Fazia a escrita de alguns comerciantes, manufaturava cigarros e até chegou a ser dono de um botequim.


ALAS


E como os Hering começaram no Brasil?


- Por obra do acaso. Hermann Hering adquiriu em Joinville, em 1879, um tear circular e um caixote de linhas. Talvez se manifestasse nele o sangue dos antepassados que, desde 1635, eram tecelões e mestres em tecelagem. O fato é que auxiliado por um alemão experiente na construção de máquinas, Hermann Hering conseguiu montar o tear e fazer as primeiras experiências. Quando surgiu a possibilidade de produção de artigos bons, êle pediu à esposa, por carta, que lhe enviasse os dois filhos mais velhos – um rapaz e uma moça – para ajudá-lo. Já no ano seguinte pediu ao irmão Bruno para também vir e trazer a família toda. De início, bastavam as forças da família para transformar o que se produzira no tear em produtos aproveitáveis. Mas ao serem adquiridos o segundo e o terceiro teares, teve que procurar novos operários. No quintal da casa foi construído um simples rancho de madeira, em cujo interior havia três teares circulares, algumas máquinas de costura e outras de tecer meias, uma prensa e a mesa de corte. Breve, nem isso era mais suficiente, nem o terreno atendia às exigências do crescimento. Procurou-se um lote que também dispusesse de força motriz hidráulica e, este encontrado, nele erigiu-se uma singela construção, que, com o tempo, foi sendo acrescida de novas alas.


SEPULTURA


Isso tudo tirado do tear circular e do caixote de linhas comprados meio por acaso?


- Pois então. Ao pensarmos que a obra, iniciada sem grande capital e sem dinheiro emprestado, em relativamente pouco tempo cresceu e se desenvolveu num empreendimento considerável quase se nos afigura como milagre. Mas não foi. Esforço enérgico, fidelíssimo cumprimento do dever e o governo econômico de lar e oficina possibilitaram os primeiros sucessos. Com tudo isso, reinava na família um tom alegre, o amor ao canto e ao progresso intelectual, sendo este último favorecido pelos irmãos Hermann e Bruno Hering por leituras recreativas e científicas, que, em voz alta, eram feitas em família. Da Alemanha já se trouxera muito material, bem como uma edição completa das obras de Goethe e livros de outros clássicos. Bruno Hering era grande admirador de Goethe, e O Fausto, que ele sabia quase inteiramente de cor, foi-lhe colocado na sepultura.


Terminou o segundo capítulo. No próximo Blog do Pimpão tem mais.

 

FALSAS


O ministro da justiça, Ricardo Walendowski, prepara projeto de lei para o governo mandar para o Congresso Nacional aumentando a pena para o crime de receptação, que é mesmo muito branda. Quer passar a mínima de 3,5 para 4,5 anos de prisão e a máxima de 8 para 12 anos. Já o presidente Lula afirmou que não vai deixar o Brasil virar uma república de bananas na questão do furto de telefones celulares. Obteve acordo com as operadoras da telefonia celular para o fornecimento dos dados dos seus clientes e, usando o registro de ocorrência de furto de aparelhos, vai usar um aplicativo para mandar mensagem aos portadores de “smartphones” surrupiados ou comprados barato de gatunos para, dentro de 7 dias, irem a uma delegacia de polícia fazer a devolução ou serem enquadrados no crime de receptação. Comentam que a medida seria para tentar reverter a queda de popularidade do Lula. Ela pode ter origem no vídeo de 2019 que circula nas redes sociais em que critica a violência policial contra jovens de 14, 15 anos, “as vezes inocente e as vezes porque roubou um celular”. Alguém fez montagem e juntou “para tomar uma cervejinha”, que falou mais tarde. A Oposição aproveitou para propagar que estava incentivando o roubo de celulares. Não adiantou mostrar o vídeo com a fala completa. O brasileiro adora e compartilha as notícias falsas.


FARMACÊUTICOS


A ANVISA autorizou o aumento de 5,06% nos produtos farmacêuticos. As farmácias poderão mudar os seus preços a partir de hoje e numa paulada só. Poderão, contudo, parcelar para diluir o aumento durante todo o ano. Creio que muitas redes farão isso para evitar que clientes sofram colapso cardíaco e morram, deixando de ser consumidores continuados de seus produtos farmacêuticos.


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