INIDÔNEAS
Hoje dedico o meu Blog à literatura. Mas, antes, não posso deixar de comentar dois fatos que julgo da maior importância. O primeiro: 676 Organizações Não Governamentais recebem verbas da Câmara e do Senado. A Controladoria Geral da União pegou 26 e analisou o que acontece com elas. Verificou que apenas 4 deram transparência total aos repasses. 9 apresentaram dados incompletos e 13 não deram bola para a exigência legal. O ministro Flávio Dino mandou suspender o pagamento das emendas parlamentares para as 13 e determinou que a Advocacia Geral da União faça uma auditoria nas entidades, que elas sejam intimadas a apresentar as informações requeridase que a Câmara e o Senado sejam intimados para se manifestarem sobre o relatório. Mandou que tais ONGs sejam inscritas no cadastro das entidade impedidas e no das inidôneas.
O segundo: o STF está de olho nas Emendas Pix, que aumentaram 12 vezes em 4 anos. Em 2020 foram 621 milhões e em 2024 o total saltou para ,7 bilhões de reais. Os Parlamentares argumentam que os repasses por meio deste formato têm menos burocracias. Criadas em 2019 permitem que o dinheiro seja mandado diretamente para as contas de prefeituras e estados sem indicação de obra ou projeto específico a ser contemplado. Autoridades públicas esquecem os cinco princípios da administração: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
PERSONALIDADES
A Senhora de Paris foi o título que Enéas Athanázio deu ao capítulo dedicado à poeta e escritora Gertrude Stein (1874-1946) em seu “Livro sobre livros”. Americana de nascimento, sempre esteve ligada à França e mais especialmente a Paris. Pertencente a uma família de judeus alemães, tinha 4 anos de idade quando esteve pela primeira vez na capital francesa e nunca mais esqueceu. Adulta fixou-se em Paris, juntamente com o irmão Leo Stein, com quem fundou uma grande editora. Depois se desentenderam e ele imigrou para a Austrália. Os dois se dedicavam ao patrocínio de artistas e escritores, mas todas atenções convergiam para ela, uma personalidade forte e dominante. Tornou-se “madrinha” da classe artística criando amizades com figuras de grande destaque, como Pablo Picasso, James Joyce e Ezra Pound. Tornou-se mulher poderosa com grande influência social e sua casa se transformou em centro de reunião de artistas, escritores, jornalistas e personalidades.
CACHORRO
Ao mesmo tempo temida e admirada, Gertrude Stein desde o início começou a colecionar obras de arte e sua casa virou um grande museu. Ernest Hemingway contou que ela recomendava às esposas dos escritores e artistas que não gastassem com roupa e guardassem o dinheiro para a aquisição de quadros. Cercada pelo mundo artístico, entre eles os intelectuais americanos expatriados, viva na companhia de Alice Tokias e um cachorro.
PARIS
Sem a menor cerimônia, emitia opiniões favoráveis ou desfavoráveis sobre as obras alheias, mesmo que os autores fossem seus amigos. Foi assim que se desgastou e acabou a amizade com Hemingway. Ela batizou os escritores americanos que se mudaram para Paris de “geração perdida”, frase que teria ouvido de um mecânico. Seu poema “uma rosa é uma rosa é uma rosa” se tornou célebre em todo mundo porque, na linha de Joyce, ela desprezava as regras da língua. Sylvia Beach, dona da famosa livraria “Shakespeare and Company” escreveu: “os pobrezinhos (artistas e escritores) recorriam a mim, como se eu fosse uma espécie de guia de turismo, e imploravam para que os levasse para ver Gertrude Stein”. E assim ela reinou por longo tempo, como a Senhora de Paris.
TELAS
Dentre as obras de Gertrude Stein tem destaque os livros “Autobiografia de Alice Tokias”, “Autobiografia de Todo Mundo” e “Paris Franca”, todos de grande sucesso na época da publicação. Este último tem muito do pensamento e observações da autora. No texto ela faz comparações entre os séculos XIX e XX e as mudanças no mundo em cada um deles. O livro foi escrito durante a II Guerra Mundial e publicado em 1940, no primeiro dia do cerco alemão à capital francesa. Segundo a critica Inês Cardoso, o livro é uma escrita cubista transpondo para as letras o que Picasso fazia nas telas.
EXISTEM
Gertrude Stein dizia que o escritor precisa de dois países. Aquele em que nasceu e um segundo, ideal e romântico, em que de fato vive. Parece que tinha razão, pois a “geração perdida” se impôs em Paris. É no segundo país que encontra liberdade de criação. Ela dizia que Paris era o lugar certo para uma pessoa estar. “Os estrangeiros estão em casa na França porque lá os artistas e escritores são respeitados e merecem todas deferências. Por causa do elemento civilização, Paris sempre foi o lar dos artistas estrangeiros. Ela dizia não entender certos intelectuais que apoiavam regimes de força que fatalmente os perseguiriam e tornariam sua vida insuportável. Enéas Athanázio comenta que também não entende, mas eles existem.
RESERVA
Encerrando seu livro Gertrude Stein dizia que o Século XX seria um tempo em que todos poderiam ser livres para serem também civilizados. Não foi profética. Foi um século de barbaridades. Duas guerras mundiais, holocausto e bomba atômica, Revolução Russa, Guerra Civil Espanhola, Revolução Cubana, conflitos de libertação em Angola, Moçambique, Argélia e escaramuças locais e regionais. Ditaduras sanguinárias em vários países, como as encabeçadas por Salazar, Franco, Stroessner, Pinochet, Peron, Somoza, Duvalier, Medici e outros. Gripe espanhol e AIDS. Crises do tipo 1929, fome e miséria na África, imigração ilegal e clandestina para países europeus. E no Brasil? Canudos, Contestado, Revolução de 30, Revolução Paulista, tentativas golpistas, Golpe de 64, terríveis secas nordestinas, enchentes no sul e tudo mais que o leitor possa se lembrar. No seu “Livro sobre livros”, Enéas Athanázio faz uma pergunta: “E o Século XXI, além da pandemia, que mais nos reserva?”.
RIO
Não posso encerrar sem comemorar a vitória do tenista brasileiro no “Challenger de Camberra”, na Austrália, na madrugada deste sábado. O carioca João Fonseca começou com o pé direito a temporada. Logo no primeiro torneio conquistou a taça. Com duplo 6-4 derrotou o norte-americano Ethan Quinn. O jovem de apenas 18 anos de idade vai dar um grande salto no “ranking” da ATP. Ficará perto do Top 100. Vai longe o Garoto do Rio.
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