SEMPRE
Hoje resolvi me dedicar exclusivamente à literatura e destacar a figura de José Saramago, que nasceu em 16 de Novembro de 1922 em Azinhaga (Portugal) e morreu em 18 de Junho de 2010 em Tias (Espanha). Recebeu vários prêmios em diversos países. Vale mencionar que em 1995 recebeu o Prêmio Luís de Camões, criado pelos governos do Brasil e Portugal em 1988. José Saramago tinha 64 anos de idade quando conheceu Pilar del Rio. Ela tinha 36 e o procurou para dizer que era apaixonada pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis. Ele se apaixonou por ela. E viveram felizes para sempre.
CHÃO
No “Livro sobre livros”, li o capítulo que Enéas Athanázio intitulou de “Figuras Que Fazem Falta: José Saramago”. Versa sobre o único escritor de língua portuguesa a ir a Estocolmo, em 1988, para receber o Prêmio Nobel de Literatura das mãos do Rei da Suécia. Começa contando que Portugal viveu 48 anos de impecável ditadura fascista liderada por Oliveira Salazar, deposto na Revolução dos Cravos. Fatos da maior importância aconteceram em seguida e muito influíram na existência do escritor José Saramago. Com base no acontecido a professora e escritora Conceição Flores teceu excelente ensaio publicado em revista acadêmica sob o título de “Levantado do Chão”.
VIVE
Portugal, no ano seguinte, teve as primeiras eleições livres em clima de violência política, até que ocorreu a “Crise de 25 de Novembro”. Foi a tentativa de golpe de estado, que acabou por consolidar a democracia no país. Os acontecimentos influíram na vida no escritor, militante da esquerda. Foi demitido do jornal que dirigia, ficou desempregado, decidiu mudar para o Alentejo e escrever “uma história sobre o campo e quem lá trabalha e mal vive”.
AGRÁRIA
Instalado em Lavre, tratou de conhecer a vila, que tinha 740 habitantes, sua história e o “modus vivendi” do povo. Conversou com homens e mulheres, gravou entrevistas e fez anotações para o livro que seria batizado de “Levantado do Chão”. Naquela região imperava o latifúndio e até a casa onde foi morar pertencera a um latifundiário foragido por causa da reforma agrária.
HOMEM
Foi então que lhe caiu em mãos o caderno do camponês João Domingos Serra com fatos históricos de sua família desde 1904. Foi um achado que impulsionou a sua obra projetada. Conforme disse, foi nesse dia que começou a escrever “Levantado do Chão”, quando “contrai uma dívida que jamais poderei pagar”. A ensaísta explica que o romance foi colhido da própria vida e narra a história dos Maus-Tempos, os camponeses que vivem no Alentejo, no sul do Tejo. Registra o ror da exploração e miséria de que são vítimas os “donos de coisa nenhuma” em troca de “miséria paga”. Um relato dolorido da velha exploração do homem pelo homem.
POVO
Conceição Flores anota que a zoomorfização exposta pelo narrador revela o sistema de escravidão a que são submetidos os sem-terra alentejanos. Nesse sistema o feitor é peça fundamental, “é o chicote que mete na ordem a canzoada”. A desumanização gerada pela exploração e pela violência do opressor é mantida pela ausência da educação, por isso é conveniente...” Situação em pleno Século XX na desenvolvida e sofisticada Europa. A educação despertaria o perigo da conscientização e por isso a ignorância contava com o apoio do Estado, a Guarda Nacional Repúblicana, “criada e sustentada para bater no povo”.
ESTATAL
A autora prossegue na análise do romance, sob a luz de renomados pensadores e reproduz episódios de sofrimento, perseguição, prisão e miséria de pessoas sem terra. Descreve as masmorras erigidas para encarcerar os democratas, como o Forte de Caxias e do Aljube, que faziam parte do chamado roteiro do terror, criado pelo autodeterminado Estado Novo, velho praticante do imemorial terrorismo estatal.
SALAZAR
Lastreada em fontes sólidas, a autora aponta a decadência do salazarismo. O comentado “tombo de Salazar”, as reivindicações e protestos violentos do povo, as fugas de presos políticos do Forte de Peniche, o início das guerras coloniais na África e o surgimento de movimentos libertários, como os do General Humberto Delgado, candidato à presidência pela Oposição, e José Adelino dos Santos, organizador da frente pelas eleições livres e que acabou assassinado. Em 1961 um grupo de 24 exilados portugueses e espanhóis sequestra o navio Santa Maria e começa o movimento pela deposição de Salazar.
DIGNIDADE
Sob o comando do capitão Henrique Galvão, o fato obteve repercussão mundial e o navio revolucionário esteve ancorado no Brasil. Provocou o descontentamento da direita brasileira favorável ao ditador luso. Enéas Athanázio comenta que se lembra bem desses fatos pois acompanhou o dia-a-dia pela imprensa. Tudo envolto na linguagem romanesca de Saramago. Dá os parabéns à escritora Conceição Flores pelo ensaio penetrante e justiceiro, no qual disse que o salazarismo caminhava para a “dèbacle” e Portugal e o mundo davam profundo suspiro de alívio. Encerra afirmando que o romance de José Saramago se impõe como autêntica obra-prima, a saga dos oprimidos, mostrando mais uma vez que só na democracia o ser humano pode viver com dignidade.
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