CONTERRÂNEO
O nosso presidente da república fez o discurso inaugural da 79a Assembleia Geral da ONU. Desta vez não teve o microfone cortado, como no Pacto do Futuro, ao exceder o tempo que lhe foi destinado. Mas voltou a dizer que a difícil aprovação demonstra o enfraquecimento de nossa capacidade coletiva de negociação e diálogo. Afirmou: “Andamos em círculos entre compromissos possíveis que levam a resultados insuficientes”. Em 21 minutos, Lula deu o recado com a franqueza de ex-presidente de sindicato, pregou a reforma da ONU e a presença de mulher na Secretaria Geral. Quer profundas mudanças para adaptá-la ao mundo contemporâneo.
HUMANIDADE
Começou saudando a delegação palestina, que participou pela primeira vez do evento em Nova York. Cobrou a mudança no Conselho de Segurança, que desde a sua fundação é mandado pelos mesmos, todos do Hemisfério Norte. Criticou a imobilidade do órgão mundial no combate a crises vividas pela humanidade.
FORÇADOS
Foi duro ao atacar a primazia dos gastos com armamentos, em detrimento às desigualdades e às emergências climáticas. “Os gastos militares globais aumentaram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima. O uso da força, sem amparo no direito internacional, está se tornando a regra.” Não aliviou quanto às guerras na Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Iemen, que já atingem 30 milhões de pessoas, seja por morte, fome ou deslocamentos forçados.
VINGANÇA
Quanto a Gaza e Cisjordânia e a expansão para o Líbano disse que assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente. “O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. São mais de 40 mil vítimas, em sua maioria mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança”.
TEMA
Lula destacou os esforços do seu governo e não se furtou às dificuldades encontradas com os problemas enfrentados. Disse que fizemos muito e é preciso fazer mais na luta contra quem lucra com a degradação ambiental e que não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e com o crime organizado. Aí partiu para o ataque: “Estamos condenados à interdependência da mudança climática. O planeta não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono neglicenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global. Assegurou que o Brasil vai zerar o desmatamento até 2030 e defendeu que as populações indígenas e dos territórios afetados sejam ouvidas e façam parte das decisões sobre o clima. Destacou que o Brasil passou a desenvolver combustíveis renováveis há cinco décadas, quando o mundo não priorizava o tema.
RECONSTRUÇÃO
Lula teve coragem para dizer que é inaceitável que Cuba continue a figurar em lista de países terroristas e que por isso enfrente sanções e isolamento. Lembrou que o Haiti necessita de esforço dos países e da ONU para estabelecer “inadiável” ordem política e empreender um processo de reconstrução.
DEMOCRACIAS
Ao falar sobre democracia, o presidente brasileiro defendeu que provisionar o que as populações precisam para viver bem é algo imperativo, inclusive para responder a aventuras extremistas ou a teorias ultraliberais. “No Brasil a defesa da democracia implica ação permanente antes investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento. … A democracia precisa responder às legítimas aspirações dos que não aceitam mais a fome, a desigualdade, o desemprego e a violência”. Ressaltou que o baixo crescimento econômico da América Latina precisa ser enfrentado, inclusive com cooperação internacional, para garantir a tarefa distributiva e de justiça social que cabe às democracias.
GUERRA
Lula defendeu que as plataformas digitais e a tecnologia da inteligência artificial precisam de regulação nos planos nacionais e internacionais. O futuro passa sobretudo pela construção de um Estado sustentável. Que não se intimide ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras. Concluiu: “Elementos essenciais da soberania incluem o direito de legislar, julgar disputas e fazer cumprir as regras dentro de seu território, incluindo o ambiente digital”. Sobre a inteligência artificial chamou a atenção para o potencial destruidor de um mecanismo concentrado nas mãos de poucos e com uso sem regras. Defendeu que haja uma governança intergovernamental da IA em que todos os Estados tenham assento. “Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra.
EFETIVA
Lula meteu o dedo na ferida. Comentou que 79 anos após o fim da II Guerra Mundial continua ativo o Plano Marshall, que foi criado para a reconstrução da Europa. “Plano Marshall às avessas em que as regras financeiras forçam países e setores mais empobrecidos a enriquecer continuamente uma pequena parcela do mundo”. Os recursos financeiros continuam proibitivos para a maioria dos países de renda média e baixa. Países da África tomam empréstimos a taxas 8 vezes maiores do que a Alemanha e 4 vezes maiores do que os EUA. “Os mais pobres financiam os mais ricos.” Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva.
GLOBAL
Por fim, em contraponto ao sistema que criticou, Lula defendeu novas regras que tributem as grandes fortunas, de modo a financiar parte do enfrentamento aos desafios mais urgentes do planeta. “Enquanto os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ficam para trás, as 150 maiores empresas do mundo obtiveram, juntas, 1,8 trilhão de dólares nos últimos 2 anos. A fortuna dos 5 principais bilionários mais que dobrou desde o início da década, ao passo que 60% da humanidade ficou mais pobre. Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora. Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido na cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global.
CONTINENTES
Pela importância do discurso, limitei o meu Blog de hoje ao que o brasileiro afirmou e foi aplaudido na reunião dos líderes dos países dos 5 continentes.
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